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Sim, é permitido não sorrir.


Como bem dizia Nando Reis, “O mundo está ao contrário e ninguém reparou...”, ou reparou e se anestesiou. De bebida, droga, ou remédios antidepressivos. De máscaras, que na pandemia do COVID-19 são bem-vindas, ou ainda de sorrisos para disfarçar a nossa dor.

É muito difícil ser o tempo inteiro feliz, e super valorizar a felicidade pode ser adoecedor e pesado. Esse pode ser um lugar de muita dor! Tem super poder, quem assume suas fragilidades. Numa vida de tragédia e comédia, pela qual todos passamos, é insustentável, a leveza do ser. Mas é possível a leveza do não ter que ser.

No filme “O Coringa”, somos provocados a refletir quando é que o sorriso e a alegria se tornam uma obrigação. Imposta por uma sociedade que possui dificuldade em encarar o feio e o diferente ainda que ele seja relativo e esteja muito mais no olhar de quem vê e na relação com o que vê, que com o que realmente é visto. “Todo mundo é péssimo hoje em dia e é o que basta para enlouquecer.”

Joaquim Phoenix também fala no filme que “A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse”, ou seja, o diferente é visto como algo estranho e não, diverso e complementar da minha existência, da sua existência, da existência do mundo. Ninguém pensa como é estar do outro lado. Como os rótulos pesam... E tentam nos definir...

As pessoas te veem pelo que você é ou pelo que você as deixa ver? Você gasta mais do seu tempo se perfazendo para o outro ou sendo quem você realmente é? Você é para o outro ou também busca ser para ti? Por que é tão difícil criarmos a cultura de nos deixarmos ver por quem somos? A batalha real deve estar na criação de uma cultura em que seja possível a convivência com o diverso, e não, a sua exterminação. No máximo, se não concordo com o outro, aceito a possibilidade de o outro ser quem é, do jeito que é.

Onde mora a minha existência? A minha existência existe no personagem que revisto e revisito todos os dias? Esgota-se aí ou aí só é um ponto de partida? Quanto transformamos os outros em piada e definimos a sua visibilidade pelo lugar do estigma, do rótulo? Quem decide o que tem graça e o que não tem?

Outra provocação do filme é: “Quem não conseguiu atingir sucesso na vida é apenas um palhaço?” Apenas? O que é ser um palhaço? Que delícia sermos palhaços e fazermos os outros rirem! E conseguirmos rir de nós mesmos! Que delícia perceber que um ponto da nossa existência não é definidora dela. Afinal de contas, “Durante a toda a minha vida eu nem sabia se existia de verdade.”

Marshall diz que toda violência é a expressão trágica de uma necessidade não atendida. Mas a violência que atinge o outro não começa em nós mesmos? Quanto nos violentamos antes de violentarmos o outro?

Será possível vivermos em um mundo onde não seja preciso pedir desculpas por chorar, não sorrir, estar triste? Não ser rótulo?

Não sorria! Ficarei feliz em poder te ver vulnerável e poder te acolher ou, simplesmente, te respeitar. Para o quê você não quer sorrir? Não precisa sorrir. Aceito sua tristeza revestida em trapos. Estou com você. Por você! Está tudo bem!

“E esse sorriso nunca sai do meu rosto, apesar de nunca ter entrado em meu coração...”

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