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Chorão Marginal Alado: uma conversa sobre o Setembro Amarelo para a juventude.


Inspirado no documentário Chorão: Marginal Alado, disponível na Netflix.



Olá!


Te convido a refletir sobre saúde mental através das músicas e história de Chorão (Alexandre Magno Abrão), um ídolo do cenário do rock brasileiro, vocalista da banda Charlie Brown Jr.



Não deixe o mar te engolir.

Assim começa o documentário "Chorão: Marginal Alado" (2021), dirigido por Felipe Novaes. O documentário foi lançado em abril de 2021 em plataformas digitais e disponibilizado na Netflix em agosto do mesmo ano.

O assistindo, não pude parar de pensar em minha adolescência. Fã de Charlie Brown Jr., fui em diversos shows da banda em minha cidade, Belo Horizonte. CBJR representou uma grande parte da minha juventude. As músicas, as letras... o discurso do Chorão externava um grito que era meu e de muitas pessoas da minha idade.

Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério.

Se naquela época não houve um espaço aberto para conversas, sobretudo sobre o tema aqui em questão, saúde mental e, consequentemente, culminando na morte prematura de dois integrantes da banda, este documentário faz o convite:


Precisamos conversar!


Quantos jovens não são levados à sério?



O documentário faz uma homenagem bonita a Chorão, ao mesmo tempo que não romantiza a sua vida.

Seu amor pelo skate

O sonho da banda

A auto cobrança

Sua personalidade forte

E ao mesmo tempo sensível

O Chorão poeta

Conflitos familiares e com os caras da banda

Depressão

Drogas

Sua morte


Ao assistir o documentário, algum tipo de tristeza e nostalgia se alojou em mim. Uma primeira reflexão:


Qual é o sentido da vida? Qual é o destino da vida? São perguntas diferentes e também são respostas diferentes.


A morte e o sofrimento se fazem destinos inevitáveis da vida. Mas, como disse Viktor Frankl, "Quem tem por que viver, aguenta quase todo como." Então, se este é o destino, qual é o sentido? Qual foi o sentido da vida de Chorão?


Muitas vezes fazemos, ingenuamente, a pergunta sobre qual é o sentido de nossa vida. Referindo a este sentido como a realização de um alvo qualquer. Mas vamos descobrir, muitas e muitas vezes, diante de nosso sofrimento, que o que mais nos importa não é única e exclusivamente o que nós esperamos da vida, mas sobretudo o que a vida espera de nós.



Chorão e seus amigos da banda seguiram o sonho

Mas até que ponto estamos tão apaixonados por nossos sonhos

E deixamos que ele nos persiga?


O sonho da nossa vida

Quando nos persegue

Retira de cena todas as outras importâncias


O sentido da vida é aquele que se vive.


Uma segunda reflexão que Chorão: Marginal Alado me provocou, foi:


O sonho da banda se realizou. Mas o sonho da banda se apossou de toda a vida que havia. Viver pelo sonho tem um preço. Talvez mais leve seja viver com o sonho. COM ele, às vezes nas nuvens, às vezes no chão.


Chorão e os integrantes do Charlie Brown Jr. se consolidaram como uma das maiores bandas de rock do Brasil naquela época.


Mas quando chega a hora de soltar as mãos deste sonho e viver a vida por outras perspectivas, de outras formas? Nada nos escapa mais de nossas mãos (nem os nossos sonhos), como nossa própria vida.



É verdade... Algumas músicas do tempo de Charlie Brown Jr, citando aqui também Raimundos e Planet Hemp, não se preocupavam muito com o "politicamente correto". Elas externavam livre e, talvez, descautelosamente o imaginário dos jovens. Os desejos, as angústias, as satisfações e insatisfações.


Mas voltando aos sonhos...


O sonho gritou tão alto, que outros projetos de vida dos integrantes da banda foram abandonados. A escola, por exemplo.


Já parou para pensar em como a adolescência é uma fase do "nem lá, nem cá"? Nem lá na infância, nem lá na vida adulta.


Não se pode adotar as mesmas atitudes "infantis", é necessário ter agora responsabilidade, mas não o suficiente para fazer as próprias escolhas, afinal, ainda não é adulto. Nem lá, nem cá, o que é ser um adolescente?


Essa pessoa que vai para escola se preparar para o futuro, um futuro tão distante. E o agora? É sempre lá: o que você quer ser? O que eu quero ser? Quem eu sou? Como estou?


Em meio a toda esta bagunça, tantas comparações... corpos perfeitos, vidas perfeitas são exibidas em um feed. Logo neste momento em que tenta-se descobrir: "qual é o meu valor?".


Esperando a escola acabar para fazer vestibular, para se posicionar. Afinal "o que faço", em nossa sociedade, vem à frente de "quem sou".


E neste turbilhão, como fica as emoções dos nossos jovens, que não são mesmo levados a sério?



Escrevo este texto emocionada... Eu me sinto emocionada porque me recordo de como seria importante para mim, em minha adolescência, ter conversas sobre as dificuldades que eu enfrentava. Por que temos tanto medo de conversar sobre questões tão importantes da nossa vida? Sobretudo com crianças e jovens... Para mim, parece que criamos uma barreira muito grande, julgando que não são capazes de compreender.


Será que não são os adultos, tão cheios de certezas, que se tornam incapazes de se abrir o bastante para escutar - leia de novo: e s c u t a r - uma pessoa mais jovem?


O documentário mostra Alexandre (Chorão) também em um lado romântico. Das diversas canções feitas para sua namorada/esposa, a realidade de que o relacionamento não sobreviveu às dificuldades e às drogas.


O músico enfrentou sérios problemas com o vício. Do seu vínculo conflituoso com a fama, com a esposa, com os amigos, com a família... para o vínculo com as drogas. O documentário traz relatos de como Chorão se sentia cansado da rotina maçante de shows. A droga foi um escape, uma saída.


Uma saída para a depressão que sentia?


Para mim ficou a reflexão sobre como é perigoso nos cercarmos de pessoas que nos oferecem acesso à situações danosas para a vida.


Quais são os amigos que queremos cultivar? Quem são as pessoas que se importam? E eu, me importo com as pessoas que me cercam? O quanto me importo comigo?


Comigo!


A importância das boas companhias. Precisamos de vínculos saudáveis e de pessoas que não desistam de nós. Por mais que pareça que não, você irá encontrar pessoas que te apoiem.


Às vezes é difícil sair sozinho/a de uma condição difícil. Nessa hora, não desista. Não desista! O mundo tem muitas pessoas boas, creia que sim. Ao final deste texto irei te indicar onde você conseguirá encontrar uma pessoa que irá te apoiar quando você precisar.



A depressão, a carência de apoio e o abuso de drogas teve como consequência a morte de Chorão, por overdose, no dia 6 de março de 2013. Se engana quem acha, simplesmente, que Chorão morreu de overdose. Citando Marshall Rosenberg, "Matar é superficial demais".


O olhar somente para o abuso de drogas, ou para uma morte por acidente de trânsito, é superficial demais. Chorão morreu pela depressão, pelo silêncio, pela não expressão, pelo não cuidado, pelo espaço insuficiente, escasso ou quem sabe inexistente de conversa.


Apesar de, nesta data, o cantor estar com seus 42 anos, este texto se dirige aos jovens. Eram os ouvidos que ouviam Chorão, que escutavam Charlie Brown Jr..


A morte abalou muitos fãs e também a banda.


No dia 9 de setembro de 2013, o baixista de CBJR, conhecido como Champignon, se suicidou. Ele tinha 35 anos. Ele também deixou sua família e esposa grávida.


O que leva uma pessoa a praticar uma violência com a própria vida? O que leva uma pessoa a por um fim em sua vida?


O fim que se quer é o da dor ou do viver? É do vazio ou da existência? O que se quer acabar? O fim da vida é o fim da não escuta, é o fim da possibilidade, da chance que temos de sermos ouvidos no mundo e de ouvir alguém.


Na minha jornada como psicóloga clínica, eu escuto e compreendo que algumas pessoas se sentem tão desesperançosas ao ponto de pensar que por um fim na vida é a única possibilidade de acabar com o sofrimento. Eu compreendo e, sobretudo, escuto. Mas não concordo.


Compreender é diferente de concordar.


Eu acredito que há outra saída e eu tento emprestar um pouco desta luz para alguém que esteja vendo a vida tão escura.


Não quero falar de números.


Eu só quero que a gente possa se lembrar de escutar, pois nunca poderemos saber qual é a última chance que temos de olhar verdadeiramente para alguém. Escute hoje, fale hoje, seja honesto hoje, tenha coragem hoje. Isto pode mudar tudo.



Aqui embaixo, deixo para você informações de um lugar onde você irá encontrar escuta, neste momento, se precisar.


CVV - Centro de Valorização da Vida.

Ligue 188

www.cvv.org.br


Se você quiser uma ajuda mais específica em sua cidade, a Escola de Empatia conta com uma rede de pessoas queridas em todo o Brasil. Nos envie um e-mail, e tentaremos encontrar em nossa rede alguém para te apoiar.


contato@escoladeempatia.com.br


Eu deixo aqui o meu abraço emocionado, porque você leu! Eu celebro você ter lido. E acho que, se você está lendo esta última frase, alguma coisa deve ter feito sentido para você.


Obrigada por não desistir.



Camila Marques é psicóloga, especialista em arteterapia e co-fundadora da Escola de Empatia. Aprendiz e cultivadora da Comunicação Não Violenta. É mãe de menino e tia de menina! Ama dançar e praticar circo. Seu jeito preferido de se expressar no mundo é a escrita. Apaixonada por Carl Rogers e Rubem Alves; estudiosa da Abordagem Centrada na Pessoa, no CPH-Minas; Designer de Sustentabilidade, formada pelo Gaia Education Belo Horizonte; Certificada em Bem estar, Empatia e Felicidade - PUC-RS.

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