Quando a brincadeira vira Bullying?
Provavelmente você já ouviu a palavra bullying. Talvez já tenha sido vítima, testemunhado ou praticado uma agressão. Mas será que bullying é realmente o que você pensa?
Já ouvi falas como “bullying é bobagem”, “antigamente não existia bullying, todo mundo brincava e era feliz” e outras que demonstram uma confusão entre os conceitos: brincadeira, agressão e bullying. Sem clareza, podemos banalizar atos de violência sistemática e não apoiar crianças e adolescentes que podem estar passando por isso.
Esta diferenciação e as diretrizes para ações estão colocadas na Lei Nº 13.185 de 6 de novembro de 2015, que institui o Programa de combate ao Bullying e pontua as ações que caracterizam esta violência. Para ampliar a discussão também utilizarei como referência aqui as cartilhas e textos da SaferNet Brasil que faz um trabalho consistente de combate e prevenção da violência no meio virtual.
Como diferenciar brincadeira de agressão?
Aqui a intenção e as relações de poder que existem entre os envolvidos contam muito mais do que as palavras. Algumas questões que podem nos ajudar na diferenciação são:
- Todos os envolvidos estão se divertindo? Todos gostam da brincadeira?
- A brincadeira tem início, meio e fim?
- Todos que participam da conversa escolhem participar? Se sentem confortáveis para sair quando quiserem?
- Há limites iguais na conversa?
Se uma dessas respostas for NÃO, estamos diante de uma situação violenta, mas que ainda não pode ser chamada de bullying. Para isso, temos que observar mais elementos.
Diferenciando agressão de bullying
Alguns pontos que caracterizam o bullying são:
- Situação recorrente com as mesmas pessoas sendo alvo constantemente;
- Envolvimento de pessoas sem consentimento;
- Desequilíbrio de poder na relação.
- Presença de dor, angústia e sofrimento nos envolvidos.
Como podemos ver, o bullying tem como principal característica a repetição. Não é um ato isolado e pontual, mas repetitivo e intencional abrangendo atos de violência física e/ou psicológica como: ataques físicos, insultos, ameaças, comentários preconceituosos e pejorativos, entre outros.
Se praticado pela internet ou em meios virtuais recebe o nome de cyberbullying, sendo que nestas situações valem as mesmas diretrizes e ações.
O que podemos fazer para prevenir o bullying?
O primeiro ponto é que o fizemos aqui: aprender a diferenciar o que realmente é bullying. O uso da palavra no cotidiano em situações que não se caracterizam como tal, dificulta a ação preventiva e restaurativa.
Outro ponto que dialoga com o nosso trabalho é a construção de relações pautadas na não violência e confiança. Como adultos podemos mediar situações de agressões pontuais e estar próximos das crianças e adolescentes para que possam relatar possíveis casos de bullying e violência.
A CNV também nos ajuda a ir além da dicotomia vítima x agressor, guiando as ações para a compreensão das necessidades de todos os envolvidos no conflito. Usar a lógica da punição em casos de violência não ajuda na prevenção e educação. Se realizamos um trabalho preventivo e criamos conexões baseadas no diálogo e respeito conseguimos evitar o bullying e ter relações mais humanas e compassivas.
Para finalizar, deixo aqui o convite de conversarmos com pessoas do nosso convívio sobre o assunto, buscando ampliar a nossa percepção e ação preventiva.
Referências:
LEI Nº 13.185, de 6 de novembro de 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm
Bullying não é brincadeira. Publicação da Safer Net. Disponível em: https://new.safernet.org.br/.
Pedagoga e professora dos anos iniciais do ensino fundamental. Facilitadora na Escola de Empatia. Voluntária na Sociedade São Vicente de Paulo atua no atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade e realiza formações sobre empatia, acolhida e trabalho social. Formação em Yoga, Mandalas e Neuropedagogia e Teatro do Oprimido.
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