Os 100 Adeus
Quantos adeus temos dado, antes, mesmo, de nos permitir dar umas boas-vindas recheadas de processos, de pausas e de pequenos cafezinhos? Nos relacionamentos de hoje, vemos e somos vistos como mercadorias nas prateleiras e outdoors de beleza ou estampa anunciada. Valemos por nossas profissões, nossos corpos malhados, nossas máscaras de perfeição. Vale quanto pesa? Ou vale quanto aparenta ser? Quanto vale um sorriso calado, um aperto de mãos firme, um abraço sincero, a profundidade de um olhar? Não queremos mais investir nosso tempo no amadurecimento das relações, mas, somente, na vã e falsa garantia de que estamos rodeados de muita gente e, no final das contas, de gente alguma. Até das nossas memórias, por vezes, andamos com raiva. E é dessa memória que o singelo filme do Netflix, Os 100 Adeus, nos convida a fazer uma reflexão. No filme, protagonizado por um casal, a ideia central é pensar os relacionamentos humanos e o que eles podem oferecer de mutação, processo e conexão. O casal da história abre um café, logo no início do filme, que abrigará o que eles denominam de Estante do Adeus. Lá, por um preço módico, as pessoas depositam suas memórias afetivas e amorosas, fazendo, de uma certa forma, as pazes, com elas. Guarda-se um elefantinho do namorado antigo, do qual o namorado atual tem ciúmes. Guarda-se um par de alianças que não foi entregue, mas carregava, originalmente, uma linda história de amor. Guardam-se objetos de decoração que carregam afeto e uma decisão de amor. A memória de um amor que acabou não, necessariamente, é ruim. É história. É aprendizado. É memória afetiva. Como temos nos relacionado com as nossas memórias? Quão gratos temos sido por nossas histórias? Como transformar o nosso olhar como gatilho para ressignificar a nossa história? Que tal fazermos as pazes com a nossa memória? Com a nossa história? Olhar pra ela com orgulho e acolhê-la dentro do nosso peito. Com todas as suas imperfeições, suas dores. Entender que é a sua história e a sua memória que te permitem procurar buscar, sempre, a melhor versão de si mesma. Que tal fazer a sua memória virar vida, gratidão e história para outras pessoas. Inspiração para não nos sentirmos só nesse vendaval bonito e necessário que é a vida.
Corinne Julie é facilitadora de Comunicação de Não-Violenta, consultora em diálogos sociais, mediadora de conflitos e advogada. Carrego um sorriso frequente, sou leitora de ruas, dançarina de forró, e cantora de chuveiro. Secretária de projetos da Frente de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. Amante de chocolates, filmes, viagens, fotografia e um bom e velho violão. Mestre em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local pelo Centro Universitário UNA. Pesquisadora na área social e autora do livro "Formação de Dirigentes Comunitários". Organizadora de Feiras de Trocas de Brinquedos pelo Brasil e idealizadora do Cineclube Maruge.
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