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O que a empatia tem a ver com autocuidado?


Um homem olhando para o homem dentro de si.
Autocuidado

O que a empatia tem a ver com o autocuidado?

“Quando internamente somos violentos com nós mesmos,

é difícil ter uma compaixão verdadeira pelos outros.”

Marshall Rosenberg

Desde meu início nos estudos de psicologia, e agora na comunicação não violenta, o autocuidado é um tema que provoca em mim muito interesse. Como cuidar do outro sem perder o cuidado comigo? Como atender as necessidades de outra pessoa incluindo atender minhas necessidades? Como aprendo a olhar, reconhecer e cuidar do que é importante pra mim?


Temos arraigado o condicionamento cultural de que para cuidar do outro preciso abrir mão de mim, de atender as minhas necessidades. Marshall Rosenberg nos diz que muitas pessoas associam necessidades a carência, dependência ou egoísmo e que isso dificulta reconhecer o que está vivo em mim e o que é importante eu cuidar para servir a minha vida.


Essa dificuldade de reconhecer o que está vivo em mim, me distancia de cuidar e atender o que preciso para ser autêntico, congruente e me posicionar no mundo de forma saudável e coerente com o que quero ser. Isso traz dor, sofrimento, angústia e violência.


Autocuidado significa cuidar de si, para exerce-lo não preciso excluir o outro, mas ter clareza de que estou incluído, garantindo o meu bem estar ao me dedicar a outrem. É encontrar estratégias para cuidar também do que eu preciso.


De acordo com a publicação da Fundação Nacional da Ciência norte-americana (National Science Foundation) em 2005, nós temos de 12 mil a 50 mil pensamentos por dia, sendo que 80% deles são de autocríticas, ou seja, auto violentos. Ainda que a neurociências tenha posicionamentos divergentes quanto aos estudos da quantidade de pensamentos diários, existe uma concordância com a presença dos pensamentos autodestrutivos. Esses pensamentos geram diálogos internos, também destrutivos e desqualificantes. Marshall nos aponta que “quando conceitos críticos a respeito de nós mesmos impedem que vejamos a beleza que temos dentro de nós, perdemos a conexão com a energia divina que é a nossa origem.” Dialogando de forma crítica e distanciando da energia divina que nos move, fica mais difícil uma relação compassiva com nós mesmos, não acha?


Precisamos aprender a nos avaliar de forma que gere mais amor e autocompaixão do que ódio por nós mesmos. Para isso, a empatia, no exercício da auto empatia pode nos apoiar a construir esse aprendizado.

Empatia é a habilidade de compreender o significado da experiência vivida por outra pessoa e legitimar essa experiência. O exercício da auto empatia é validar seus próprios sentimentos e necessidades vivenciados nas diversas situações da sua vida. Desenvolver a habilidade de empatia é curativa pois nos proporciona libertação emocional.


O cuidado começa em mim. Ofereço ao outro, ao mundo, aquilo que tenho. Se não estou munido de cuidado e amor, não tenho isso para oferecer. Para cuidar do outro preciso olhar primeiro pra mim. Se quero uma relação amorosa e passiva com os outros, preciso relacionar desta forma comigo. Como o comando dado pela aeromoça quando estamos prestes a fazer uma viagem de avião. “Em caso de despressurização, máscaras cairão sobre suas cabeças, coloquem a sua primeiro, só depois ajude quem está ao seu lado!”


Como posso começar?


Olhando e cuidando da forma como me avalio. O que você costuma te dizer quando tem um comportamento que julga “imperfeito”, “errado”, “inadequado”? Pare alguns segundos e responda essa pergunta.

Costumamos responder com frases desse tipo: “Que burrice!”, “Como sou idiota!”, “O que há de errado que não aprendo?” Essa forma, nos leva autopunição, a nos dizer que merecemos sofrer pelo que fizemos e não ao aprendizado. Ao ódio por nós mesmos e não a compaixão.

Mas podemos olhar para nossos erros de forma acolhedora e compassiva. Vou te convidar a um exercício aprendido com a comunicação não violenta, que você pode fazer sempre que estiver em um momento de autojulgamento, motivado pela culpa, medo ou vergonha que vai ajudar a conectar-se compassivamente consigo e compreender qual necessidade buscava atender com o seu comportamento.


Primeiro: Descreva o comportamento: O que você fez que te desagradou?


Segundo: Descreva todos os julgamentos que aparecem na sua cabeça. O que penso ou julgo de mim por ter feito o que fiz?

Agora vamos traduzir esse diálogo de julgamentos em aprendizado sobre o que preciso cuidar em mim.


Terceiro: Conecte com os sentimentos e necessidades atuais. O que estou sentindo agora quando penso isso sobre mim? Quais necessidades não estão atendidas em mim agora?


Quarto: Releia o que respondeu na primeira pergunta e investigue quais necessidades minhas eu buscava atender quando fiz o que eu fiz?

A comunicação não violenta nos diz que todo comportamento é para atender a uma necessidade. Quando tenho clareza da necessidade que buscava atender quando fiz o que fiz, mesmo que eu perceba que fiz de forma trágica, ou seja, diferente da forma que sinto ser coerente e autêntica com o que quero ser nas minhas relações, posso criar novas estratégias para atender a essa necessidade. Por exemplo: Quando grito com minha filha porque gostaria que ela arrumasse a cozinha e isso vira uma briga que me deixa frustrada e triste, porque conexão e apoio são necessidades importantes pra mim. Se julgo que o grito é um comportamento que não aprovo, posso ao invés de me autocondenar, reconhecer que eu preciso de apoio e conexão e assim buscar novas maneiras de atender a isso, como criar acordos possíveis nas divisões de tarefas.


Então, o quinto e último passo nesse exercício é um pedido pra mim: Quais ações posso fazer para atender minhas necessidades atuais? Busque estratégias para cuidar de você de forma consciente e compassiva!

Faça esse exercício quantas e quantas vezes sentir necessário!

“Um aspecto importante da autocompaixão é sermos capazes de ter empatia por ambas as partes de nós mesmos: a parte que se arrepende de uma ação passada e a parte que executou aquela ação.” (Marshall Rosenberg)


Bruna Perillo

Psicóloga clínica, especializada em Gestalt-Terapia, apaixonada pelo desenvolver humano. Desenvolvendo-se. Escutante interessada e envolvida com a promoção da habilidade de Empatia e Comunicação Não violenta. Buscando um mundo mais sustentável e coerente com as necessidades humanas. No caminho, persistindo, procurando, encontrando e

co-construindo.

Co-criadora da Escola de Empatia,

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