Distanciamento social e Projeto Ruas
Nos últimos meses temos falado e ouvido sobre o distanciamento social, como nos afeta emocionalmente, como impacta a sociedade e a pergunta é como será o novo normal?
Olhando pra trás, percebo que o distanciamento social não é algo tão novo, no Brasil vivemos isso desde que nascemos, exemplo é que o “desenvolvimento” da sociedade brasileira ocorreu com a ascensão dos brancos que possuíam os negros como força de trabalho escravizada ao longo de tantos anos, e mesmo após a abolição da escravatura, modos de vida muito distantes foram multiplicados.
Em 2015, eu vivia um auge na minha carreira profissional e também a partir deste mesmo ano eu mergulhei na causa das pessoas em situação de rua. Reflito que desde então, vivo encontros e experiências em duas realidades sociais completamente diferentes, a empresa e a rua. O distanciamento social já estava diante de mim, abismos e muros sociais que refletem a maneira como a nossa sociedade se organiza.
Desejo, todos os dias, buscar entender melhor isso dentro de mim e contribuir para reduzir as distancias sociais entre as pessoas que ocupam os espaços da minha cidade. O distanciamento social que me parece mais gritante por anos e anos é o que existe entre as pessoas em situação de rua e os moradores de um bairro, especialmente na zona sul do Rio de Janeiro. São modos de vida, recursos, oportunidades, acessos e histórias de vida muito distintas.
Um recurso muito eficiente que temos usado neste período de pandemia é a conexão, com o wifi podemos nos conectar independente de qualquer distancia. Compreendo, portanto, que a conexão entre as pessoas pode diminuir qualquer distanciamento social e quando construimos esta ponte vemos as similaridades que nos fazem humanos, independente de onde dormimos a noite. Todos os dias sentimos fome, sede, amamos,nos decepcionamos, temos tesão e um monte de expectativa na vida. O fio condutor da conexão humana é o amor, é uma atitude de escolher ir ao encontro de alguém.
Que possamos construir mais pontes de conexão humana capazes de transformar as nossas relações e também a nossa sociedade.
Esta é uma das reflexões que recebo como presente depois de uma roda de conversa cheia de emoção e troca com pessoas e projetos inspiradores que acabei de participar no Festival de Empatia promovido pela Escola de Empatia.
Texto de Allini Fernandes, co-fundadoda do Projeto Ruas.
O Projeto Ruas é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica ao atendimento de pessoas em situação de rua. Nosso propósito é demolir barreiras para gerar oportunidades a todas as pessoas em situação de rua. Criamos espaços de conexão entre pessoas em situação de rua e residentes do seu entorno, desenvolvemos equipes locais em diferentes bairros e realizamos atividades de informação e estímulo que buscam fortalecer a autonomia e a autoestima dessa população. Acreditamos no trabalho em rede para gerar impacto social e queremos ampliar este impacto sendo uma franquia social. Nossos valores são empatia, desenvolvimento pessoal, melhoria contínua e comprometimento.
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