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Carta aberta ao meu pai


Interessante, pai, eu nunca consegui entender muito bem por que você sempre valorizou a escrita. Seja ela nos livros, nos estudos, nos jornais, nos recadinhos de afeto. Quantos jornais acumulados em sua estante que, quase começa a esmorecer de peso, mas se lembra, altiva e forte, que o acúmulo de conhecimento em cima dela é um peso bom e gostoso a ser suportado! Lembro-me bem que sempre insistiu para eu deixar uma dedicatória nos livros que te dei; você sempre me escreveu cartões, recados e carinhos em forma de letras. Hoje, ano em que já não utilizo mais tanto a escrita em minha vida para esses pequenos afetos cotidianos, acho que entendi um pouco, essa razão da importância da escrita. Para mim, ela é a forma com que você mais se identifica para se fazer falar. E assim, você nunca deixou de falar comigo; aliás, nosso diálogo, sempre foi muito aberto e sincero, nas entrelinhas do aconchego sereno do seu olhar e do seu carinho. Dentro das suas possibilidades e respeitando os seus limites. Também dessa forma, você me ensinou a ouvir melhor as pessoas e tudo o que margeia a minha, a sua, a nossa fala, que não acontece somente pela boca, mas como dizem alguns estudiosos, pelas outras 23 formas de linguagem que possuímos. Ao mesmo tempo, como a linguagem oral por vezes, lhe é difícil, e mais árdua, cá estou eu, estudando uma forma de tornar a fala mais palatável às pessoas. Sim, é possível, é importante, é preciso, para quem disso quiser se aproveitar! Não é um caminho fácil... Mas quem disse que a vida é fácil? Todos os dias ela nos apresenta momentinhos difíceis. E foi olhando para essa dificuldade, sua, minha, de cada um de nós, em algum momento da vida, que eu cruzei, mais detidamente, com a Comunicação Não Violenta. E ela se fez chão, solo, semente... Estudando a Comunicação Não Violenta, pude perceber que o não se torna uma abertura a vários outros sim. Que a autonomia se faz quando eu permito ao outro se colocar, ainda que não seja com o meu vocabulário, com os meus anseios, com as minhas expectativas, mas com toda a lindeza desse outro que é diverso, plural e belo também! Isso é autonomia e liberdade! A Comunicação Não Violenta me permite ver, todos os dias, que para que eu escute o outro e o respeite; eu preciso, antes, me ouvir com a toda a inteireza, o espaço e os vazios que isso exige.Isso é tão bonito, pai. E você é parte muito importante desse meu trilhar. Obrigada por tanto! Obrigada por me fazer acreditar que, independente, de como eu falo, eu circulo afeto, e que, quanto mais eu me permito escutar, eu dou ao outro, o meu outro, a possibilidade de se escutar e se amar mais e mais! Te amo, te escuto e te falo! Na linguagem da vida e dos afetos. Dentro do seu coração e do meu!

Corinne

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