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Como construir uma relação de colaboração e confiança com as crianças?


Imagem: acervo pessoal

Quando comecei a trabalhar como professora tinha muito medo de tomar decisões junto com as crianças porque ficava pensando: é impossível que dê certo, vai dar briga, eles não têm capacidade de saber o que é melhor, vou gastar muito tempo se fizer assim e outras coisas do tipo.


Mas como gosto de desafios e não me sentia capaz de resolver tudo sozinha, comecei a tentar, testar e fui colhendo frutos maravilhosos dessas práticas. Hoje escolhi um desses momentos de construção coletiva para compartilhar com vocês.


No ano passado estava com uma turma de 2º ano do ensino fundamental, a maioria das crianças tinha 7 anos. Tínhamos que fazer uma apresentação artística para as outras turmas da escola e decidimos que faríamos tudo coletivamente. Assim, a partir de votações escolhemos fazer um teatro e a história seria uma fábula criada por nós com o tema: a força do amor. E é com o coração cheio de orgulho que conto pra vocês que crianças de 7 anos criaram uma história linda sobre o amor.


Mas não paramos aí. Ainda faltava distribuir os papeis e fizemos isso coletivamente. Eu ia apresentando cada um e eles iam escolhendo as preferências. Quando mais de um queria o mesmo personagem fazíamos um sorteio para decidir. Deu super certo e em um clima de muita cooperação preenchemos tudo. Fizemos o mesmo para escolher as fantasias e detalhes da apresentação.


Alguns dados interessantes sobre as escolhas: os narradores não foram os que tinham maior fluência em leitura, mas os que quiseram se desafiar fazendo isso. Os protagonistas foram os mais “tímidos” da sala que quiseram se arriscar em novos papeis. Minhas sugestões tinham o mesmo valor que as das crianças. Muitos cederam para colegas ao perceber que eles queriam muito o papel ou fantasia e no final todos ficaram satisfeitos com as escolhas realizadas.


Depois de toda essa preparação apresentamos nossa história para a escola e foi um sucesso! Mas o interessante é que quando fomos celebrar o mais importante foi a sensação de termos feito tudo juntos. Nem reparamos na reação da plateia, nem pensamos se os expectadores gostaram ou não. Naquele momento a vitória mais importante tinha sido do nosso grupo.


Posso garantir que investimos muitas horas neste processo todo, mas como valeu a pena! Aprendemos coisas que livro nenhum iria nos ensinar. Ganhamos autoestima e confiança. Aprendemos a ouvir e acolher as ideias dos outros. Aprendemos também que nem sempre nossa ideia ganha a votação. Descobrimos a potência do nosso grupo e nos sentimos realizados com o que construímos juntos.


Bom, contei tudo isso porque foi muito importante pra mim. Apesar de já estar neste processo há um tempo, essa apresentação me ajudou a tirar o resto de medo que eu tinha. Um medo que talvez nem era de as coisas darem errado, mas sim de perder o controle. De ceder na minha posição de autoridade.


Claro que ainda temos problemas, desafios e dias bem difíceis nos quais nem tudo dá tão certo assim. Porém continuamos avançando e descobrindo que quando fazemos juntos, crescemos muito mais!





Pedagoga e professora dos anos iniciais do ensino fundamental. Voluntária na Sociedade São Vicente de Paulo atua no atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade e realiza formações sobre empatia, acolhida e trabalho social. Formação em Yoga, Mandalas e Neuropedagogia e Teatro do Oprimido.

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